Friday, May 02, 2008

Passaporte

"E sei que a poesia está para a prosa
Assim como amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?"
Caetano Veloso


Solta da minha mão e vai. Voa leve, peito aberto, num sopro rasteiro donde possa mirar as flores do chão e ainda assim não te olvidar do brilho das estrelas do céu. Voa na simples poesia, na desnecessidade da rima, na liberdade dos versos, na métrica caprichosamente deformada.

Pisa descalça na uva, sente o cheiro da terra vermelha e úmida. Bebe o vinho doce de amor, colhe o alimento que brota do chão. Sente a música do violeiro dos dedos longos, barriga grande e bigodes fartos. Ouve o canto da lavadeira e escuta o assobio dos passarinhos até teu coração bater na mesma sintonia. Ri de si mesma, ri do amigo e do inimigo. Beija o sol, lambe a lua. Cumprimenta a rua, abraça a estrada. Sorri pra liberdade.

Senta na beira do asfalto. Espera se a carona não vem. Cantarola aquela nossa canção secreta pros momentos de solidão. Mas quando o próximo parar, abre-te o coração e transborda a alma. Chega pro canto e divide a cama, faz um esforço e reparte o pão. Preserva a lucidez mas não te esquece de te entorpecer. Conversa com ela e até flerta com ele. Não perde a sedução do primeiro olhar, da palavra inicial, do carinho tímido de todo começo.

O mundo só pesa nas costas de quem acredita ser mais fraco que ele. Esse peso vira pluma se o que te importa é a vontade de voar. Voa em sorrisos de menino, em balões de criança. Flutua no ar, saltando a fogueira e subindo certeira na noite de São João.

Voa por mim, voa pra mim e voa por ti. Porque eu te amo e te quero maior. Mesmo que não te veja, posso te sentir a todo momento. Nas lágrimas sorridentes que escorrem em mim. Nos sorrisos secretos que derramo por ti.

Vive o máximo e se algum dia nossas intensidades voltarem a se encontrar te confortarei em meus braços, pequena. Pra que depois, da palma de minha mão, possas alçar um novo vôo, cuja decolagem seguirei até onde o olhar alcançar. E quando não mais a vir, deixarei contigo e levarei comigo sempre o coração. Cerrarei os olhos e gozarei do imagético, viajarei nos sonhos de tuas venturas e aventuras enquanto sigo meu caminho. Como um cego que imagina a praia enquanto ouve a melodia das ondas e sente o frescor da brisa que sopra do mar.

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