Thursday, January 19, 2006

Sobre o dia em que a moça pediu-me prova de amor

O vento soprava silenciosamente os cabelos presos pela fita. Fitava-me com olhos singelos que seduziam com uma inocência que o riso sarcástico e desafiador revelava não existir naquela moça. E as palavras delicadas que saíram docemente no entreabrir dos lábios, flutuando entre o assobiar dos pássaros e o suave barulho das águas, não negavam o tom provocativo da fala: “Prova que me ama que eu provo do teu amor”.

E lá vou eu. O homem move-se por desafios. E nenhum desafio é maior do que um pedido de uma mulher. Lá se vai mais um homem-zumbi, vagando pelos caminhos tortuosos, obstinado em atender aos caprichos da musa.

Deitei em meu leito solitário a pensar. Flores, doces, jóias, presentes... Não! O amor jamais seria provado por algo que pode ser comprado com algo que pode ser contado. Não há como comprá-lo nem contá-lo. Além do que, ele não é igual, não pode ser igual, jamais será igual. Então, para amores únicos, provas únicas. Palavras não são únicas, mas poemas são. São poços de subjetividade. Mas... Por onde começar? Busquei inspiração em Willian, em Fernando, em Álvares. Nada.

Pensei bem. Mas o que é o amor? Como provar algo que nem sei definir? Pedi ajuda ao Pai Aurélio. O velho robusto, do alto de sua sabedoria, só soube me dizer alguns conceitos como: “Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem”. Desculpe, mas é muito pouco diante da imensidão do amar. Talvez as palavras sejam vãs demais para falar do amor, os poetas não me animaram, o léxico não me convenceu. Enfim, o sono me venceu. Adormeci, sonhei. Adivinha com quem? Acordei sorrindo. Fui ao encontro dela.

De volta ao parque, ela estava no mesmo lugar à minha espera. Ao me vir, logo deixou escapar um sorriso largo e espontâneo, depois uma gargalhada. Provocante. Naquele momento tive a certeza que me pedira tal prova apenas para rir do meu fracasso. E pra me deixar o dia todo pensando nela. Conseguiu. Aproximei-me e disse-lhe: “admito meu insucesso em provar meu amor, mas nunca, o fracasso em te amar. Seja lá o que signifique tal verbo ou tal sentimento”.E de seus lábios delicados saíram palavras que aos meus ouvidos soavam como música: “Há coisas que não se explica, não se prova. Basta sentir”. Beijou-me. E naquele momento podíamos compartilhar o tão complicado sentimento. Não pensávamos em nada, éramos dois num universo limitado, num cerco infinito, num lugar sem problemas, sem ódio, sem ganância. O amor é sentimento egoísta, como a árvore que suga toda água e nutrientes do solo. Enquanto ele está agindo não há espaço para mais nada. Mas entre um amor e outro o homem encontra tempo pra destruir o mundo e a vida.

O amor. Este sentimento intangível, que alguns julgam inatingível, que não sabemos o que é mas sabemos perfeitamente quando chega. Algo absolutamente abstrato que se concretiza com facilidade nas batidas aceleradas do coração, no arrepiar dos pêlos, no friozinho na barriga, na gagueira na hora de dizer o que havia ensaiado tantas vezes, no sorriso instantâneo ao avistá-la. Talvez o amor seja apenas uma invenção humana, uma bobagem, ou um objetivo, um sonho que queremos viver o resto de nossos dias. Uma brisa que queremos que nunca nos deixe de refrescar. Um vento, intocável, invisível, indescritível, um nada. Ah, o amor não é nada. Mas é tudo.

2 Comments:

Blogger Vitor Taveira said...

Alguém aí sabe o que é o amor? Alguém arrisca defini-lo?

9:44 PM  
Blogger juliana batista said...

Muito lindo, vitinho. Adorei!!!beijos juju

4:37 AM  

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