Friday, December 19, 2014

Javier

Ali, discreto aos olhos, inevitável aos ouvidos sensíveis, num canto do famoso Parc Guell, (en)cantava Javier. No cenário dos retorcidos arcos desenhados por Gaudí, o gênio catalão, o silêncio gentilmente cedia passo a Javier. Entre ventos sonava a voz, o tom, o toque, ele e o violão, dois corpos, dois sons, plena sintonia, quase um só.

Os turistas, que enchem a praça ali perto, são escassos nesse canto em que ele escolheu estar. Passam poucos e alguns incrivelmente não se detém diante daquela magia. Javier não é para qualquer um. É preciso perder-se para encontrá-lo. É preciso estrar distraído para senti-lo. Talvez lhe importasse menos ganhar dinheiro e mais tocar corações, e para isso era preciso ser discreto para pescar os corações mais sintonizados.

Eu simplesmente não aguentei. Fomos paralizados ao ouvi-lo. Fui inundando por dentro até transbordar. Daniela me deu um abraço que dura até hoje. As duas senhoras ao lado sentiam o mesmo. Éramos quatro corações em sintonia com o ritmo que emanava do coração-voz-violão de Javier, então uma coisa só.

Seu rosto peruano, seu timbre sem fronteiras. Dali seguiria para Alemanha e logo outros países.

Azar de quem não viu. Para cada um que se emocionou como nós, centenas estiveram perto mas não sentiram.

Fodam-se os senhores do mainstream, mas aquele sudaka fez sua turnê europeia. Tocando violão. Tocando corações.

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