Friday, December 19, 2014

Joseph

Cabelos e bigodes brancos, assim como sua pele suíça. O branco é a união de todas as cores, como era ele, pintor e viajante, ganhando a vida pelo caminho, ocupando as ruas para logo encher de cores paredes de lares, tristes ou vivos, habitados por gente que ao contrário dele entendia a viagem como uma pausa e não como uma constante.

Constante era seu afinco, desde pequeno, pintando com o pai, cozinhando com a mãe. Poderia ter sido chef, mas preferiu pintar. “A fome de comida se mata com qualquer bocadilho, a fome de beleza é mais exigente”. Viajar não foi um sonho, foi natural, como quando criança saía a caminhar entre lagos e montanhas e distraído ia, simplesmente ia, com suas pernas frágeis e seu olhar curioso.

Caminhando e pintando passavam por seus olhos e pincéis paisagens e gentes, da África, da grande paixão asiática, Américas diferentes num só traço, sua Europa.

Encantada com tanto caminho e histórias, a jovem viajante não entendia como não podia deixar de notar aquela melancolia insistente no olhar de Joseph. “Se arrepende?” “Jamais!”, respondeu quase bravo, como se tivesse sido insultado.

“Faria de novo?”, perguntou a jovem soltando a fumaça do cigarro na pequena varanda do albergue. Ele respirou, baixou a cabeça. Voltou a erguê-la rapidamente, cravando suas pupilas azuis no brilho juvenil dos olhos de sua interlocutora. Disse que estava cansado. Que seus olhos se acostumaram, que já tinha visto de tudo, nada mais o surpreendia ou excitava no caminho. “Voltaria a viajar muito mais, mas com uma companheira, um amor. Para que através do olhar dela pudesse voltar a enxergar além e recuperar o brilho e o encanto que meus olhos já não conseguem ver”.

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