Grito Literário

Wednesday, June 14, 2006

Te amo, amor
Amor, te amo
Amor te amo
A morte amo
Amem
Amem
Amém.

Monday, June 05, 2006

Luísa

Quadros bucólicos destoavam do quarto claustrofóbico ao qual ela se resumia naquele momento. Não havia porque nem por quem fingir que era feliz ali, vencida a ilusão de não estar a sós.

Corpo retorcido feito os galhos das árvores do quintal que não existia na infância que ela não teve. Lembranças melancólicas de um tempo que não existiu. Na visão distorcida de imagens desfocadas objetos estáticos sobrevoavam o chão oscilante. Ao som de cantos amordaçados e gritos afásicos, o ruído do rádio sem sintonia completava a fúnebre trilha sonora. O telefone fora do gancho evitava a ajuda que esperava mas não desejava.

Segredos enclausurados nas gavetas trancadas por chaves desaparecidas. Poemas que sobraram ardiam em fogo e se esvaiam em pó. Lágrimas esturricadas de um sangue já estancado.

Sonhos mortos estilhaçavam os espelhos de quem já não suportava mais se ver. O tilintar do brinde rachou as taças, derramou o vinho, obstruiu o caminho.

O parapeito desafiava: "Vai menina!". Ela ficou.
As armas intimavam: "Renda-se!". Ela lutou.

A racionalidade que cultivara com tanto afinco agora era vencida pelo que até então desconhecia e até hoje busca compreender. O sublime instante foi tão breve para que ninguém reparasse. Mas o mundo parou, para que ela girasse.