Grito Literário

Wednesday, October 21, 2009

Ermitão

Aqui do alto eu rio da sociedade
de um lado eu vejo o rio
doutro miro a cidade
de um lado sopra vento frio
doutro venta a saudade

rio-me dos carros parados em fila
dos bois sendo tocados pelo peão
do vai-vém vagaroso da vila
do corre-corre da estação

vejo o abrir da porteira e do sinal
a buzina do carros e dos leiteiros
e assistir os diferentes dias inteiros
faz ver que viver no fundo é igual

daqui de cima eu rio de filosófos e profetas
e lá em baixo eu miro em segredo os poetas
de um lado vejo Caeiro tocando o rebanho
doutro Andrade olhando a paulicéia
pela fresta espio Marília tomando banho
e assisto ao atropelamento de Macabéa

daqui de cima contemplo
as gentes que fazem colheita
a gente que vai para o templo
o fanatismo da seita
o barulho cidade que se deita
o puro despertar do campo
a correria corriqueira do trampo

Do alto eu brinco de Deus
de longe digo adeus
aos capiaus que querrem ir pra cidade
aos urbanos que sonham morar na roça
mas não têm coragem de largar
a vida da sociedade
ou a boléia da carroça

E vivo sozinho a observar
entre um lado ou outro
prefiro estar noutro
Aqui em cima é meu lugar

Hai cais 2.0

Já caem as folhas
Todo outono pede um vinho
Então saque as rolhas

...............................................

Só mesmo um otário
para buscar uma rima
no dicionário

Dark Angel

Escrever um poema
no papel higiênico
de madrugada
no banheiro
só pra não esquecer
o que queria dizer
pra ela amanhã
e nem acender a luz
pra não acordar
o seu amor
que dorme
angelical

Um, dois

Um dia, duas pessoas
Uma chuva, dois guarda-chuvas
Um caminho, duas direções
Um gesto, dois movimentos
Um pra lá, outro pra cá
Dois passam onde
Um só cabia

Uma troca de olhares, dois sorrisos
Um acontecimento simples, duas estrofes
Um poema.