Grito Literário

Monday, May 25, 2015

A viagem do sol

Eram dias de nuvens gritando em chuvas. Para confirmar meu pessimismo fui checar a previsão do tempo: mais chuva por vir.

Ela arrumava malas distraidamente. Como se fosse roupa, puxou o sol que brilha incessantemente no cerrado, dobrou-o e ajustou junto à maleta, entre coisas fofas para não quebrar seus raios disformes.

O raio-x do aeroporto não acusou a existência de metais pesados e a maleta abriu-se por aqui. O sol saiu tranquilo, de boa. Algumas nuvens, gorduchas de água, se assustaram e saíram correndo, desengonçadas. Outras, orgulhosas, dixavaram e se foram de fininho, assobiando como se não fosse nada.

No instituto do tempo, houve divisão. Metade do corpo técnico passou o final de semana discutindo para entender a subversão do previsto. A outra metade estava na praia tomando sol, de canudinho.

Ela voltou com a mala carregada de poesias, escritas em papel ou registradas no olhar, máquina de es-crer-ver. Para evitar pagar excesso de bagagem deixou o sol por aqui.

Os pessimistas que olhavam o céu azul com estranhamento e sem desfrute, viram passar um avião, um teco-teco azul claro, trazendo amarrado em sua cauda a seguinte mensagem: "No futuro, o erro sempre é possível"