Grito Literário

Saturday, July 08, 2006

Silvia

O tempo todo estávamos juntos e não sabia. Não sabíamos. Sentíamos. Sente-se. Apenas sente-se à mesa posta e ceia comigo. Não fala que não precisa, deixa o conforto do silêncio nos dizer o que aquelas palavras todas não conseguiriam.

Sempre olhando pra ti assim gosto de lembrar. Eram tantos os sonhos que pareciam nunca chegar, mas que se multiplicavam e pareciam cada vez mais inatingíveis- e nem por isso menos desejáveis. E aquelas noites solitárias traziam um certo conforto que só hoje sei que eram teus afagos. Sem saber me carinhava e eu correspondia, sem querer, sem tocar. E nos víamos no refletir na lua.

Estranho. Logo nós, que nos achávamos tão fortes rendidos assim, por algo tão inexorável e que tão nos é superior. Atados e amordaçados. Vencidos, entregues. Felizes.

Não sei, mas parece tão óbvio. Nosso lugar-comum é tão comum, é tão simples, tão normal que chego a estranhar. Às vezes fico com medo. Medo de ter medo. De ter medo de ser feliz. Aí vem aquela música baixinha, o suspiro ao pé do ouvido, as unhas brincando de percorrer meu corpo e esqueço. Esqueço de todos e de tudo, do tudo e do nada. Parece que só existe o amor. O resto são coisas dispensáveis que a humanidade inventou pra tentar suprir a falta dele.