Grito Literário

Saturday, March 25, 2006

Mulheres e filmes, acasos e destinos

Ultimamente tenho usado as noites de sábado mais para ver um filme sozinho do que pra fazer filme pra mulheres. Mais um drama distante, na tela, do que sentir um drama real.
Às vezes, simplesmente não quero sentir, não quero viver com intensidade. Só esperar o que o tempo passar. Abro mão de momentos felizes por preguiça do sacrifíco que tal alegria me custará.

Não está sendo ruim. Que companhia pode ser melhor que eu mesmo? Não há divergências, eu penso igual a mim. Resta-me esperar até quando o desejo agüenta ou o acaso não vem.

Claro que não gosto mais de filme do que de mulher. Talvez isso esteja acontecendo porque tenho sido mais exigente pra escolher aquele do que esta. E por isso os filmes têm me enriquecido interiormente mais do que as mulheres. Alguns filmes me deixam uma mensagem, quando acabam não terminam. Continuam em minha mente. Muitas mulheres, não.

É um saco duvidar no destino e ser inimigo do acaso. Estou refém de um dos dois, não sei de qual. Mas seja qual for, preciso de sua ajuda. Preciso que o destino acredite em mim ou que o acaso me estenda a mão.

Sunday, March 19, 2006

Realidade construída (em versos)

É difícil aceitar
que a realidade é edifício
e que construí-la é nosso ofício.
Construção eterna mas etérea.
Tijolo por tijolo no desafio tolo
de termos um bom lar.

A realidade é nosso lar
e não podemos descansar.
Vivemos na realidade,
vivemos a realidade.
Vi, vemos a realidade.
Mas só parte dela,
parte aquela do ângulo da visão,
do limite da razão,
do estouro da emoção
ou da tela da televisão.

Do nosso prédio avistamos
vizinhos em desespero
construindo sozinhos o mundo inteiro.
Cada um com seu mundo,
construindo o tudo rumo ao nada,
sem perceber que nada é tudo
e que tudo não é nada.
Concomitantes, por todos instantes,
somos pedreiros e inquilinos
seguindo os destinos
que talhamos ou traçaram por nós,
fazendo e desatando nós.

Vivendo o presente
que ganhamos de presente
sem fazer pedido nem saber remetente.
Presente de grego,
pois não temos sossego
até ele pifar, até a vida acabar.
Árduo esforço ao trabalhador moribundo
que sua de blusa ou de terno
até o descanso eterno,
até o sono profundo.

Sem opção, temos a bomba na mão.
Somos escravos sem pirraça,
riso sem graça.
Graça sem riso,
casa sem teto nem piso.

Se a estrutura está fraca
façamos devassa,
traz mais argamassa pra fortificar.
Pra forte ficar.
O que é forte resiste e
quanto mais dinamite
pra levar ao chão
maior a glória da implosão.
E se for fraco, se deixar muito buraco
não precisa nem de um vento:
vira migalha com o tempo
e desmorona por si só ao relento.

A sua realidade você constrói sozinho.
Pode até olhar a do vizinho,
no condomínio da vida.
E com domínio da vida
se vai ao longe sem sair do lugar,
se faz infinito o que por certo vai findar.

Mas entre respostas sempre incompletas
e perguntas nunca respondidas,
entre sangue das veias abertas
e cicatrizes eternas das feridas,
vivem as certezas incertas
e morrem as certezas das vidas.