Grito Literário

Thursday, November 28, 2013

Exílio

Minhas lágrimas escorrem de Norte a Sul
percorrendo as cinturas deste continente,
sonhando chegar onde nunca deixei de estar
O gelo nunca derrete em meu peito,
o vento não seca lágrimas exiladas
nem o sangue estanca em veias abertas.

Quem foi que me condenou
a ser eu fora de mim?

Amazonas

O rio segue seu fluxo
 sem se importar em ser Brasil
 Botos desfilam seu rosado
sem passaporte ou nacionalidade

O barco desliza pela avenida aquática
 entre verdes escandalosos
e olhos escondidos entre árvores

Passam países, entram pessoas
barcos vão e vêm, e eu sigo
navegando no mesmo lugar

Entre remos e motores a vida passa
em ruídos molhados
enquanto crianças correm
 por planícies alagadas

Deus se sente pequeno,
e o poeta se esvai.

As palavras não são grandeza, são palavras
Poemas não são heroísmo, são fraqueza
A paisagem e seu saber secreto
são uma profunda oração

Eu não sou quase nada,
mas sou parte de tudo.

Bullyng

A poesia sofre bullying
Ela tem o brilho do olhar de menino
E a suavidade do cabelo de menina
Mas não tem a folhinha de abacate

Sua boneca está rota,
o peão soltou uma lasca
e roda bêbado e irregular

A pipa perdeu no cerol,
desce girando entre fios
A casinha ruiu
num sopro de lobo mau

Ela senta entre joelhos
e chora doidamente

Conta até dez e sai
mas nunca encontra ninguém
Quando encontra, não alcança
e quando alcança sempre perde
no final: um, dos, três, salve todos!

A poesia sofre bullying
mas sabe que não seria tão bela
se fosse plenamente feliz